“De Aquiles para Pátroclo”, de Caitlyn Siehl, por Bianca Claudino

Caitlyn Siehl mora em Nova Jersey, tem 23 anos e já publicou dois livros com suas poesias – What We Buried (2014) e Crybaby (2016), ambos sem tradução –, além de ter participado de coletâneas e ter tido poemas publicados em revistas. Sua obra pode parecer bastante individualista a princípio, porém uma análise mais atenta mostra que há muito a ser visto, seja no uso bastante elaborado de imagens e metáforas, ou no flerte constante com literatura clássica e referências bíblicas. O eu lírico de seus poemas pode variar do destruído por uma situação àquele que está no ápice da superação, em todos os tons de cinza que existem entre esses dois extremos, o que torna sua obra extremamente íntima para qualquer leitor/a que já esteve em uma situação problemática, e os mecanismos técnicos utilizados para atingir essa identificação são bastante elaborados, ainda mais para uma escritora tão jovem. Além disso, como vários outros artistas de sua geração, Caitlyn Siehl é bastante acessível e publica toda sua obra online, em Alonesomes.

De Aquiles para Pátroclo

Meu amor, como eu deveria saber
que eles fariam um mito de nós?
Nós não morremos? Não estamos mortos?
Não são seus ossos meus ossos?Antes da guerra.
Antes de precisarmos
arrancar Tróia dos dentes
aos beijos, éramos um paraíso.
Você foi o único que eu ajoelhei
ante.

Você cansou o guerreiro em mim.

Eles escrevem sobre a sua morte.
Como eu abri caminho por infinitos
homens tentando construir um
monumento ao monstro
que eu fui depois do seu corpo
incandescer diante de mim.

Agora eu posso te dizer que
eu implorei pela flecha.
Ardorosamente.
Meu último desejo era
dormir ao seu lado na nossa tenda.
Era te esconder tão bem na morte
que Deus nenhum pudesse te tirar
de mim de novo.

Meu amor tranquilo era seu desde o
começo. Meus calcanhares
têm seu nome.

Quando minha mãe me mergulhou no rio,
ela estava nos apresentando.

 

Achilles to Patroclus

My love, how was I to know
that they would make a myth of us?
Did we not die? Are we not dead?
Are your bones not my bones?Before the war.
Before we had to
kiss Troy out of each other’s
teeth, we were a paradise.
You were the only one I kneeled
before.

You made the warrior in me tired.

They write about your death.
How I sliced through countless
men trying to build a
monument to the monster
I was after your body
blazed before me.

I can tell you now that
I begged for the arrow.
Welcomed it.
My last wish was to
sleep beside you in our tent.
To hide you so well in the afterlife
that no God could take you
from me again.

My quiet love was yours from the
beginning. I call my ankles
by your name.

When mother dipped me in the river,
she was introducing us.

 

Bianca Claudino é de Blumenau-SC, e nasceu em 1994. Atualmente, vive em Curitiba e cursa Letras na UFPR, com ênfase em Estudos da Tradução. Começou a trabalhar recentemente com tradução literária, e mais recentemente ainda com tradução de poesia.

2 comentários sobre ““De Aquiles para Pátroclo”, de Caitlyn Siehl, por Bianca Claudino

Deixe um comentário