“Na Pletora das Dríades”, de Sylvia Plath, por be rgb

Sylvia Plath (27 de outubro de 1932 — 11 de fevereiro de 1963) nasceu em Boston e foi uma das grandes expoentes da chamada poesia confessional estadunidense, mesclando experiências pessoais e ficções na voz de sua persona poética. Poemas como “Lady Lazarus” e “Daddy”, assim como “Ariel”, são algumas das inesquecíveis demonstrações da intensidade de seu repertório poético. Porém, além do reconhecimento nesse gênero, é notório seu romance The Bell Jar (1963), escrito pouco antes de seu suicídio. Manteve diários e agrupou trechos deles, contos e ensaios no livro Johnny Panic and the Bible of Dreams, publicado postumamente, em 1977. Além disso, tinha forte envolvimento com as artes visuais, com sua produção própria (conforme pode ser visto no livro Eye Rhymes: Sylvia Plath’s Art of the Visual) assim como escreveu poemas de écfrase baseados em pinturas de Giorgio de Chirico.

O poema a seguir expõe uma faceta não tão conhecida de Plath, mais mística, porém de difícil tradução, que não teria sido possível sem a revisão e conselhos de Julia Raiz.
Deixo aqui também a gravação da leitura do poema pela própria Sylvia Plath.

Na Pletora das Dríades

Ouvindo um branco e santo delírio
Sobre uma quintessencial beleza
Visível somente ao exemplar coração,
Testei minha visão numa macieira
Que, por excêntrico broto e verruga,
Conquistava todo meu amor.

Sem carne ou bebida, sentei
Largando minha fantasia à fome
Para descobrir a Árvore metafísica que escondia,
Do meu olhar mundano, sua veia brilhante
Tão fundo na madeira grossa
Que machado algum cortaria.

Mas antes que eu pudesse cegar os sentidos
Para ver com a alma imaculada,
Cada particular cunho me arrebatou tanto
Cada laivo e mancha se avolumaram mais belos
Que a carne de qualquer corpo
Deteriorado pelas marcas do amor.

Eu batalharia, no entanto,
Para atravessar os retalhos
Do leva-e-traz das folhas numa babel de línguas
Linha e mosqueado de bronzeada casca,
Nenhum relâmpago visionário
Perfurou minha densa pálpebra.

Em vez disso, ajuste brutal
Apartou cada sentido deslumbrado
Saturando olho, ouvido, paladar, toque, olfato;
Agora, capturada por essa arte miraculosa,
Cavalgo o chamejante carrossel da terra
Todo santo dia,

E como a poeira corrompe meus olhos,
Devo observar dríades feito putas bruxulearem
Suas multifárias sedas no bosque sagrado
Até que árvore casta nenhuma seja manchada
Sob o fluxo desses sedutores
Vermelhos, verdes, azuis.

On the Plethora of Dryads

Hearing a white saint rave
About a quintessential beauty
Visible only to the paragon heart,
I tried my sight on an apple-tree
That for eccentric knob and wart
Had all my love. 

Without meat or drink I sat
Starving my fantasy down
To discover that metaphysical Tree which hid
From my worldling look its brilliant vein
Far deeper in gross wood
Than axe could cut.  

But before I might blind sense
To see with the spotless soul,
Each particular quirk so ravished me
Every pock and stain bulked more beautiful
Than flesh of any body
Flawed by love’s prints. 

Battle however I would
To break through that patchwork
Of leaves’ bicker and whisk in babel tongues,
Streak and mottle of tawn bark,
No visionary lightnings
Pierced my dense lid. 

Instead, a wanton fit
Dragged each dazzled sense apart
Surfeiting eye, ear, taste, touch, smell;
Now, snared by this miraculous art,
I ride earth’s burning carrousel
Day in, day out,

And such grit corrupts my eyes
I must watch sluttish dryads twitch
Their multifarious silks in the holy grove
Until no chaste tree but suffers blotch
Under flux of those seductive
Reds, greens, blues.


be rgb (beatriz rgb, Beatriz Regina Guimarães Barboza)
é não binárie que vive na ilha de Santa Catarina. Pesquisa nos estudos feministas da tradução e/m queer na UFSC, assim como escreve, traduz, revisa e edita. Trabalha com poesia, prosa e textos de não ficção sobre temas feministas, queer~cu-ir e místicos.

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